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“Marcados para morrer”

Carlos Cabral Pereira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Rio Maria, foi assassinado numa emboscada nessa terça-feira, 11 de junho, quando chegou à sua casa na região do Planalto, no sul do Pará.

Desde 2001, seu nome estava em uma lista de «pessoas marcadas para morrer», denunciada pela Confederação Nacional de Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) e pela Comissão Pastoral da terra (CPT) do Pará.

Com Cabral, já são 12 líderes comunitários e sindicais assassinados em 2019.

Entre 1985 e 2018, 1.938 pessoas foram executadas por conflitos pela terra, água e trabalho no Brasil e 1.789 (92 por cento) desses casos permanecem impunes.

A informação vem de uma investigação realizada pela CPT, que expõe a impunidade com a qual os mandantes e os assassinos se sentem protegidos há mais de três décadas.

Metade das mortes registradas no campo ocorre na região Norte do Brasil. De cada cinco homicídios, dois acontecem no Pará, ou seja, 40 por cento do total.

De acordo com declarações de Jeanne Bellini, religiosa vinculada há 40 anos à CPT e contemporânea da irmã Dorothy Stang, assassinada por pistoleiros em 2005, são a falta de investigações e de coleta de provas os principais fatores da impunidade.

Bellini ainda afirma que há um subregistro dos assassinatos porque a CPT tem uma lista com todos aqueles casos comprováveis.

“Sabemos que o número real de vítimas de conflitos no campo é maior, mas nossa equipe, embora tenha presença em vários estados brasileiros, não abrange todo esse imenso território”, declarou à imprensa.

Agronegócio sem fronteiras

A maioria dos assassinatos é devido a conflitos pela terra. O avanço das fronteiras do agronegócio é a principal causa dessas disputas.

De acordo com dados do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (IMAFLORA), o equivalente a 10 por cento da área do país corresponde a terras públicas não mapeadas pela reforma agrária.

Essas terras é que os grileiros pretendem usurpar, entrando em conflito com as comunidades da região que há anos estão assentadas. 

“Muitas vezes, mesmo quando o despejo dos trabalhadores rurais é autorizado pela justiça, os pistoleiros aparecem no lugar ao lado dos policiais. Essa é a realidade da terra onde o estado ainda não chegou”, diz Bellini.

A violência no Pará é o efeito colateral do modelo agropecuário industrial e selvagem instalado na região por mais de meio século.

Seu avanço incontrolável despreza o meio ambiente, a vida das pessoas, naturalizar a violência e está terminando com a floresta amazônica.

O presidente Jair Bolsonaro facilitou, assim que chegou ao poder, o porte de armas para os proprietários rurais.

“A propriedade vale mais do que a vida. Esta é a linha de quem governa hoje o Brasil”, lamenta Bellini.

De fato, este é o lema do capitalismo.